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Ufac sedia 2ª Conferência Mundial sobre Ayahuasca

por Ascom02 publicado 17/10/2016 13h15, última modificação 18/10/2016 03h41

“Muita alegria, saúde e inteligência a todos que participam desse evento. Que nesses dias a gente consiga conversar bem e chegar a um resultado positivo para os indígenas, o meio ambiente e o homem.” Foi com essa benção, entoada na língua iauanauá, pelo líder espiritual Tatá Yawanawá, de 102 anos, que foi aberta a 2ª Conferência Mundial da Ayahuasca.

Realizado no berço da doutrina do Santo-Daime, o evento segue até o próximo dia 22, na Universidade Federal do Acre (Ufac), com a presença de especialistas e membros de comunidades ayahuasqueiras de todo o mundo. O objetivo é estimular o debate e o intercâmbio de conhecimentos através da interação entre povos indígenas, comunidades religiosas e cientistas de diferentes áreas, valorizando a ayahuasca como manifestação cultural dos povos indígenas.

Ao todo, mais de 160 palestrantes de diferentes naturalidades estão no Acre para compartilhar lições, conhecimentos e aprendizados sobre o tema. A programação inclui conferências, mesas-redondas e palestras, além da exibição de materiais audiovisuais sobre o assunto — 30 vídeos. De acordo com o Centro Internacional para Educação, Pesquisa e Serviço em Etnobotânica (Iceers, na sigla em inglês), organizadora do evento, mais de 750 inscrições foram registradas.

“Tive a oportunidade de participar da primeira conferência, realizada na Europa, e não podia perder a chance de conhecer a Amazônia, que é a base do nascimento da cultura da ayahuasca”, disse o colombiano Juan López. “O mundo inteiro volta os seus olhos para essa região e o conhecimento tradicional das populações indígenas. Tenho certeza que levarei daqui experiências extraordinárias.”

Para a paulista Ana Lúcia Lins, estar no Acre por ocasião de um evento internacional sobre a ayahuasca representa apoio ao reconhecimento da região. “Mesmo não sendo uma exclusividade da Amazônia brasileira, essa região desempenha um papel fundamental para a valorização da ayahuasca”, lembrou. “Aqui, nasceu uma das principais doutrinas religiosas que envolve o chá, o Santo-Daime. É uma emoção poder participar desse evento.”

A tradição espiritual da ayahuasca está presente entre povos indígenas do Brasil, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. No Acre, 16 diferentes etnias utilizam a bebida de uso milenar que resulta do cozimento de duas plantas originárias da floresta: o cipó mariri (‘Banisteriopsis caapi’) e as folhas da chacrona (‘Psychotria viridis’), que funcionam como uma espécie de chá psicoativo.

Durante os seis dias de evento, 130 indígenas participam das atividades. São representantes de povos como achaninca, apurinã, huni kuin, iauanauá, jaminauá, manchineri etc. “Para o nosso povo, essa é uma participação importante porque representa uma valorização da nossa bebida sagrada”, disse a liderança indígena Ninawá Huni Kuin. “Nós somos os detentores originais dessa cultura e temos muito a contribuir com essas discussões que visam o intercâmbio espiritual. Estamos otimistas em relação aos resultados.”

Legalizada para a utilização em rituais religiosos, a ayahuasca tem se tornado cada vez mais objeto de estudo, com possíveis efeitos terapêuticos. Para o reitor da Ufac, Minoru Kinpara, o mundo científico possui, hoje, um grande interesse sobre a substância, mas o momento é também de aprendizagem. “Nós precisamos sair da posição de apenas pesquisadores, mestres e doutores para sentarmos lado a lado com as comunidades ayahuasqueiras e aprender mais sobre a luta em defesa da cultura e dos valores dos nossos irmãos indígenas. Conhecimento científico e tradicional podem andar juntos”, destacou.

Sobre o evento

A 1ª Conferência Mundial da Ayahuasca foi realizada há dois anos, em Ibiza, com a participação de um público de cerca de 600 pessoas, entre cientistas, antropólogos e advogados de todo o mundo.

De acordo com o diretor executivo do Iceers, Ben Loenen, como resultado do primeiro encontro surgiu o Fundo de Defesa da Ayahuasca, que valoriza o reconhecimento das práticas culturais tradicionais relacionadas à ayahuasca.

“Naquele primeiro momento, desenvolvemos o evento focados no desafio da globalização da ayahuasca e isso foi possível na Europa. Agora, a ideia é colocar as tradições em debate, daí a necessidade de organizarmos o evento aqui”, disse. “No Acre, surgiram as igrejas. Precisávamos vir até a região e dar voz às vozes tradicionais. Ao fim, nosso objetivo é fazer força para a futura patrimonialização  imaterial da ayahuasca.”

Postado em: 17/10/2016