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Problemas com o solo em Rio Branco

por petrolitano publicado 18/10/2011 10h29, última modificação 18/10/2011 10h29
Jornal A Gazeta, 26.01.2001

* Roberto Feres

Durante os últimos três anos estive estudando os solos encontrados na área urbana de Rio Branco e seu comportamento quando solicitados pelas obras de engenharia, produzindo, assim, algumas cartas de subsídio ao planejamento do uso do solo para uma pequena área, correspondente à bacia de drenagem do Igarapé Maternidade.

Tendo em vista a quantidade de igarapés que cruzam nossa cidade, uma atenção especial foi dada, no trabalho elaborado, àquelas áreas próximas aos cursos d’água, as quais chamamos de fundos de vale, sem, contudo, tratá-los fora do contexto de sua bacia hidrográfica.

Pretendo neste artigo relatar alguns aspectos do trabalho e conclusões que cheguei os quais me pareceram de maior relevância e interesse de quem planeja e constrói em Rio Branco.

Em primeiro lugar, uma questão importante é entender a composição e o comportamento das argilas que predominam em nossa região. Somente os terrenos mais baixos e próximos ao Rio Acre têm teores maiores de areias, enquanto o restante dos solos são compostos, predominantemente, de argilas e siltes.

Os minerais que formam as argilas da região propiciam uma elevada retenção de água e uma considerável variação de volume (inchamento/retração) quando submetidos a variações de umidade.

Uma série de problemas construtivos podem advir dessa propriedade das argilas, sendo que os mais notados são os recalques de fundações, com trincamento de pisos e paredes, os recalques de pavimento (borrachudos), responsáveis por grande parte dos buracos existentes nas ruas e, ainda, a umidade excessiva em paredes, que diminui a vida útil do reboco e da pintura das casas.

Ao construir sobre argilas com tais características exige-se que sejam tomados alguns cuidados como a escolha da profundidade correta para apoiar as fundações, a compactação do material com maior controle da umidade e até a substituição das argilas ou sua mistura com aditivos que corrijam sua nocividade.

Outro aspecto que merece atenção diz respeito às areias encontradas nos terrenos mais próximos ao Rio Acre e nas áreas mais baixas da cidade. São materiais de granulometria muito fina e, mesmo em terrenos em que não há influência das enchentes, costumam estar saturadas com água, reduzindo drasticamente sua capacidade de suporte. Para as redes enterradas de esgoto e drenagem esta característica do solo produz sobre as tubulações um esforço de empuxo que, além do desalinhamento dos tubos, provoca a ruptura da canalização.

As consequências, nesse caso, são muitas e vão além da obstrução dos sistemas de coleta de esgotos e águas pluviais. Como são terrenos com alta permeabilidade, devido as areias, a poluição da água do subsolo se dá muito rapidamente, com grande possibilidade de contaminação também das redes de água potável. Também há grande risco de que as redes rompidas passem a escoar o solo existente, provocando um fenômeno conhecido como "piping", podendo causar grandes valas no pavimento existente e, algumas vezes, risco às construções mais próximas. Pudemos verificar, ao analisarmos alguns processos construtivos mais usuais, que os principais problemas, para a área de estudo, concentravam-se nos terrenos mais baixos, próximos aos igarapés.

Produzimos então uma "Carta de Subsídio ao Planejamento dos Fundos de Vale", onde são mostradas as áreas em que se espera encontrar maior quantidade de atributos nocivos (adequabilidade restritiva) para execução de Fundações de Edifícios, Obras Sanitárias Enterradas e Obras Viárias.

Entre as conclusões deste meu trabalho, uma das mais significativas foi a de que, para a bacia hidrográfica estudada, os terrenos que se encontram abaixo da cota de 135m (em relação ao nível do mar) são os que têm maior incidência de atributos restritivos aos três processos construtivos analisados, exigindo assim maiores cuidados e aumento significativo dos custos para urbanização.

* Mestre em Engenharia Urbana e professor
do curso de Engenharia Civil da Ufac