Você está aqui: Página Inicial > Notícias da UFAC > Ufac na Imprensa > Edições 2001 > Maio > O clima está mudando? Ou estamos mudando o clima?
conteúdo

O clima está mudando? Ou estamos mudando o clima?

por petrolitano publicado 01/11/2011 11h23, última modificação 01/11/2011 11h23
Jornal Página 20, 11.05.2001

* Alejandro A. Fonseca Duarte


Entre tantas obrigações e compromissos de trabalho, acabei me esquecendo de um dos nossos compromissos fundamentais, que é divulgar o que fazemos para a Sociedade. A Sociedade, em abstrato, aparentemente não nos cobra nada, talvez precisamente por isso, entre obrigações e compromissos acabamos esquecendo dela. É imperdoável, mas peço desculpas. E prometo divulgar mais sobre o nosso trabalho.

Somos o Setor de Estudos de Uso da Terra e Mudanças Globais da Universidade Federal do Acre. - Você pode nós visitar, você poderá fazer parte dele. Este Setor pertence ao Parque Zoobotânico, que é uma unidade de pesquisa em Meio Ambiente. Acostumadas ao mundo das siglas, as pessoas chamam de SETEM ao Setor, de PZ ao Parque, assim como dizem UFAC à Universidade. Dentre as questões que se abordam no Setor, estão estudos sobre o clima, a radiação solar e a qualidade do ar. Falei dentre as . porque são muitas e todas irão ser mais divulgadas.

Mas afinal, o que é o clima na Terra? Poderíamos concordar no seguinte: o clima fica definido pelas condições atmosféricas, que caracterizam os diferentes lugares do nosso planeta. Por exemplo, chuvas, geleiras, ciclones, umidade, temperaturas, ventos, pressão, etc. Uma região pode caracterizar-se pela freqüência com que acontecem chuvas intensas, pode ser uma região úmida, de temperatura geralmente alta - sobre os 25 ºC -, mas não tão alta como no deserto. Em conseqüência, pode possuir abundante água em grandes rios, lagos; possuir uma vegetação exuberante; condicionando-se assim diversas possibilidades de vida. Entre a biodiversidade da Floresta Amazônica e o clima tropical próprios deste Sistema Ecológico existe como um pacto entre equilíbrio e transformação.

A idéia é que o clima muda, mas um certo tipo de equilíbrio existe acompanhando às mudanças. A seguinte comparação pode ser grosseira, mas pode servir de imagem: quando andamos, por exemplo de bicicleta, mudamos - relativamente, de lugar- e se não caímos da bicicleta mantemos o equilíbrio. O clima não muda de lugar, ele muda no tempo. As mudanças das condições atmosféricas são diárias, são sazonais, acontecem em décadas, milênios e milhões de anos.

Ao longo da história da Terra essas condições atmosféricas se modificaram, estão mudando no presente e continuarão se modificando no futuro. Então as mudanças climáticas são naturais?, - sim e não. Sim, podem ser naturais, porque acontecem mesmo sem a intervenção do homem; e podem não ser naturais porque o homem as provoca com muitas de suas ações ou atividades. De fato, nos últimos 150 anos a atividade industrial, principalmente, tem trazido poluição na atmosfera - também em outros meios- motivando que a temperatura média anual característica da Terra tenha aumentado. O planeta está ficando mais quente - aquecimento global -, devido a processos que lançam para o espaço partículas de fumaça, dióxido de carbono (gás carbônico: CO2) e outros gases e substâncias que desequilibram o curso natural das mudanças. As queimadas e o desmatamento na Floresta Amazônica podem deixar-nos sem florestas e sem clima tropical.

No SETEM da UFAC, - usando as siglas- estamos estudando essas mudanças induzidas, e o mais importante estamos advertindo sobre bases científicas para que elas não aconteçam, encenando variantes e alternativas de desenvolvimento mais sustentáveis do que muitas práticas atuais.

Vou terminar por aqui, citando a Revista Veja, na sua edição número 1696, de 18 de abril de 2001. No artigo “A natureza contra-ataca” está escrito:

Os Estados Unidos, União Européia e Rússia bateram os recordes de emissão de gás carbônico - o principal responsável pelo aquecimento - nos últimos 50 anos.

Centenas de espécies de peixes comestíveis foram extintas em apenas trinta anos pela pesca industrial, que usa satélites para localizar cardumes e redes tão descomunais que poderiam engolfar um prédio de quarenta andares. Pela presença de pessoas em seus lugares de vida, animais estão sendo extintos num ritmo cinqüenta vezes mais rápido que o trabalho seletivo da evolução natural das espécies. Apenas um terço das florestas que viram a chegada dos colonizadores europeus às Américas ainda está de pé. O Brasil já perdeu 93% da Mata Atlântica, 50% do cerrado e 15% da Floresta Amazônica. E as motosserras continuam em ação.

Sim, definitivamente, estamos mudando o clima!

* Doutor em Ciências Físico-matemáticas; Pesquisador do Grande Experimento da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA); Universidade Federal do Acre