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Um ano depois...

por petrolitano publicado 09/11/2011 14h46, última modificação 09/11/2011 14h46
Jornal Página 20, 08.11.2001

Reitor Jonas Filho fala das dificuldades e das realizações alcançadas no seu primeiro ano à frente da Universidade Federal do Acre

Exatamente há um ano, no dia 8 de novembro de 2000, a Universidade Federal do Acre (Ufac) viu tomar posse o sétimo reitor dos seus então 26 anos de história (a instituição foi federalizada em 5 de abril de 1974).

Eleito com 43% dos votos da comunidade universitária e nomeado pelo presidente da República, o doutor em Paleontologia Jonas Pereira de Souza Filho assumiu um mandato de quatro anos, num dos momentos mais críticos para o ensino superior público brasileiro, com crescentes cortes orçamentários e pouquíssimas possibilidades de novos investimentos.

Completado um quarto do tempo que lhe é destinado para dirigir os destinos da academia acreana, Jonas Filho falou com exclusividade ao Página 20 sobre as dificuldades e realizações no período, bem como das perspectivas para o futuro.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Página 20 – Um ano após assumir a reitoria da Universidade Federal do Acre, qual o balanço que o senhor faz da sua gestão?

Jonas Filho – Foi um ano de grandes desafios, principalmente no que diz respeito às ações que visaram o controle e a otimização dos recursos orçamentários e de pessoal, cujas restrições impostas pelo governo federal não favorecem o crescimento das instituições federais de ensino superior no Brasil e gera dificuldades aos gestores. Assumimos a Ufac com dívidas junto a fornecedores, com a água cortada por débito, irregularidades na contratação de estagiários, desmobilização dos órgãos dos colegiados, cursos com demanda reprimida pela ausência de professores, dentre outros problemas. Para a solução, buscamos parcerias junto a várias instituições governamentais e não governamentais. Renovamos e celebramos novos convênios, tendo, alguns, revertido benefícios imediatos tanto para a comunidade acadêmica quanto para a sociedade como um todo, como foram os casos da melhoria do anel viário do campus universitário, bem como a sinalização do mesmo, da campanha contra dengue desenvolvida nos bairros Tucumã e Universitário, e a concessão da parte do governo do Estado de dez profissionais da área de saúde para atividades de docência no curso de Enfermagem, que apresentava problemas seríssimos. Também consideramos feitos expressivos a reforma do restaurante universitário e a recuperação do sistema elétrico do laboratório de Biologia, que há muito tempo eram reivindicações não atendidas. E ainda este ano vamos inaugurar em Cruzeiro do Sul o novo campus e um ginásio poliesportivo, além do Centro de Antropologia Indígena, aqui em Rio Branco. Não podemos deixar de falar sobre o excelente desenvolvimento do Programa Especial de Formação de Professores, em parceria com o governo do Estado e com as prefeituras do interior, e do Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da Zona Rural (Pronera), em conjunto com o Incra. São dois programas que colocam a Ufac como exemplo para outras instituições de ensino superior do país. Mas, apesar de todos esses feitos, nós vemos no processo interno de descentralização orçamentária a maior marca desse nosso primeiro ano de administração. Amplamente discutido pela academia, estabeleceram-se critérios justos para a distribuição dos recursos orçamentários da Ufac entre as unidades. O método já está sendo aplicado, com sucesso, embora, é claro, ainda deva ser aprimorado. Para finalizar, é importante dizer do esforço e da conquista junto ao MEC na obtenção de uma suplementação orçamentária, que nos permitiu o pagamento de todas as dívidas e nos possibilitou o atendimento de algumas demandas das unidades administrativas e acadêmicas. Isso equivale a dizer que não teremos em 2002 nenhuma pendência financeira do exercício anterior.

Página 20 – De todas essas dificuldades, reitor, qual teria sido a mais complicada? Igualmente, em síntese, qual o senhor destacaria como a maior realização?

Jonas Filho – A maior dificuldade foi a de administrarmos uma universidade com dívidas e restrições orçamentárias. Quanto à maior realização, destacamos a capacidade e a competência que tivemos de negociação junto aos grandes parceiros da universidade, no sentido da solução de problemas e acertos de contas. Exemplo disso é o encontro de contas que está sendo efetivado entre assessores técnicos da Ufac e da Prefeitura Municipal de Rio Branco, o que garantirá o acerto de dívidas acumuladas por falta de pagamento, tais como coleta de lixo, IPTU, água, dentre outros.

Página 20 – O que estava previsto no seu plano de execução que não pôde ser implementado nesse primeiro ano?

Jonas Filho – Nosso projeto, perseguido há mais de dez anos, objetiva a construção de uma universidade voltada para ações de interesses universais, mas, acima de tudo, que cumpra o seu papel social, respondendo às demandas regionais e, mais em particular, do nosso Estado. Uma universidade forte no ensino, na pesquisa e na extensão, que seja reconhecida por essa e por futuras gerações como a principal instituição criadora e difusora de conhecimentos do Estado. Essa construção, contudo, não se faz de uma hora para outra, num passe de mágica. Deve ser feita passo a passo e, neste sentido, acreditamos que avançamos bastante nesse primeiro ano. O nosso compromisso é o de, em 2004, entregar a administração da Ufac em melhores condições do que aquelas em que a recebemos, pronta para novos avanços e com maiores facilidades.

Página 20 – Do ponto de vista da realidade plausível, já levando em conta as dificuldades orçamentárias, que certamente não irão diminuir, o que o povo do Acre poderá esperar dos próximos três anos da sua administração frente à Ufac?

Jonas Filho – Empenho, determinação e a perseguição, por todos os caminhos, dos meios capazes para alcançarmos os objetivos da construção de uma universidade regionalmente contextualizada e socialmente referenciada.

Página 20 – O senhor, por acaso, num momento de reflexão, considera ter tomado alguma decisão equivocada nesse seu período na reitoria? Há alguma coisa que o senhor, eventualmente, possa ter feito que não faria mais se lhe fosse dada a oportunidade de decidir outra vez?

Jonas Filho – Felizmente, não. Todas as decisões passaram por profundas reflexões da administração direta e assessorias. Pode ser que algumas decisões até tenham ferido interesses pessoais ou de grupos. Contudo, nossa administração esteve e estará sempre voltada para o interesse da instituição.

Página 20 – Medicina, reitor, utopia delirante ou fato incontestável? Quando será mesmo realizado o primeiro vestibular?

Jonas Filho – Utopia é o sonho dos fracos, é a defesa dos acomodados. Defendemos a criação do curso de Medicina, principalmente porque este é um grande desejo dos jovens e famílias de nossa sociedade. E também pelo alcance e papel social que deverá desempenhar para a melhoria do sistema de saúde pública do Estado. O projeto está pronto, devidamente instruído, com todos os convênios de parceria com o governo do Estado formalizados e assinados. Em dezembro, na primeira quinzena, uma comissão do MEC realizará a avaliação final das condições mínimas necessárias para sua implantação, bastando, depois disso, somente a apreciação por parte do nosso Conselho Universitário.

Uma universidade que quer ser grande não pode pensar pequeno. O pressuposto para vencer desafios é o critério da responsabilidade e o projeto do curso de Medicina da Ufac está sendo concebido assim.

Página 20 – E a greve? O que significaram os três meses de paralisação dos técnico-administrativos e dos professores (ainda parados), no que diz respeito a possíveis ganhos ou prejuízos para a instituição?

Jonas Filho – Primeiro devemos falar da justeza do movimento grevista, que nada mais é, hoje, do que a continuidade de uma luta que há muito vem sendo travada em defesa da universidade pública e gratuita. Prejuízos até que existem, não podemos negá-los. Mas o que se tem postulado nesta e em outras greves é a garantia da longevidade da instituição pública do ensino superior brasileiro. Os ganhos ou perdas durante o processo não são pessoais nem individualizados, devendo ser creditados a todos aqueles que desejam ver melhoradas as condições do ensino-aprendizagem, da pesquisa e da extensão nas universidades. Qualquer benefício, por menor que seja, representa um ganho para a sociedade, principalmente para aquelas pessoas de menor poder aquisitivo, que têm no caráter público da instituição a única maneira de acesso ao terceiro grau e a garantia de sua qualificação profissional.

Página 20 – Por último, na sua opinião, o atual modelo de universidade brasileira ainda tem fôlego para durar quanto tempo? O que poderá vir pela frente, face ao sucateamento crescente do ensino superior público do país?

Jonas Filho – Bom, estamos falando da sobrevivência da universidade pública, não é? Porque a privada está garantida. Em relação às universidades públicas, sua sobrevivência deverá estar diretamente ligada a uma política governamental voltada para sua consolidação e crescimento, através de investimentos específicos. Não é o que temos hoje. Pelo contrário, o que existe é um descaso total com o ensino superior, que passa pelo sucateamento da instituição, pela desvalorização do trabalhador e pela restrição ao seu acesso. Recentemente li que o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, declarou que com o atual modelo a universidade não sobreviveria mais cinco anos. Ora, esqueceu o ministro de apresentar um modelo alternativo, de sobrevivência garantida, ou de dizer, de forma clara, que não está preocupado com o banimento da universidade pública brasileira. A declaração nos deixa preocupados, pois soma-se a uma série de ações de desmonte da universidade acumuladas ao longo de vários anos. O que poderá vir no futuro, dado todo esse quadro, entendemos, ninguém poderá afirmar taxativamente. O que acreditamos é que os embates entre detratores e defensores da universidade púbica deverão ser muito mais acirrados daqui para frente.

Líderes sindicais universitários opinam

Dário Lopes de Figueiredo e José Mastrangelo, respectivamente presidentes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau (Sintest) e Associação de Docentes da Ufac (Adufac), também foram ouvidos pelo Página 20 a respeito desse primeiro ano da administração do reitor Jonas Filho. Confira os seus depoimentos.

Dário – “Em linhas gerais, em termos de direção ainda não deu para saber se o reitor é um bom ou um mau administrador. Por duas principais razões. Primeiro que até agora ele só gerenciou dívidas de outras administrações. Segundo, porque pegou uma greve de 90 dias que consumiu cerca de 25% do seu mandato. O que a gente espera - eu falo em nome dos servidores - é que nos próximos três anos seja feita alguma coisa para realmente desenvolver a academia. Fora isso, devo louvar o comportamento do reitor durante a greve. As negociações dele com o sindicato foram sempre irretocáveis, jamais cogitando, sequer, cortar o ponto dos funcionários parados”.

Mastrangelo – “Acredito que esse primeiro ano de administração foi o de uma tentativa de arrumação da casa, tendo em vista a nova filosofia de trabalho dos atuais dirigentes. Ainda não parecem claros os objetivos que os dirigentes querem atingir. Mas o que se nota é um esforço por parte da administração em evidenciar esses objetivos. O que apareceu mais nesse primeiro ano foram as ações desenvolvidas em convênio com o Estado, como os cursos de qualificação nas diversas áreas. Para os próximos três anos, espera-se que aconteçam transformações reais que venham melhorar a área do ensino, atender as necessidades da comunidade através da pesquisa e uma maior aproximação com as diversas camadas da sociedade, por intermédio de programas de extensão”.