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Trote na Ufac vai parar na Polícia Federal

por petrolitano publicado 08/11/2011 15h39, última modificação 08/11/2011 15h39
Jornal A Gazeta, 17.07.2001

Lilian Orfanó
Editora-assistente

Uma sessão de trotes ocorrida este ano na Universidade Federal do Acre (Ufac) poderá enquadrar a instituição no rol daquelas que alimentam a violência e a impunidade no país. A denúncia está sendo feita pelo Ministério Público Federal à Justiça Federal no Acre, que deverá determinar a instauração de inquérito policial na Superintendência da Polícia Federal.

A Universidade poderá acabar como ré no processo por conivência criminosa, bem como os representantes do Centro Acadêmico do Curso de Enfermagem e do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Tudo isto porque a caloura do curso de Enfermagem, Dayane Soares Farias, decidiu levar às barras da Justiça o constrangimento que sofreu ao ingressar na academia. Ela contou na Procuradoria da República ter passado por um ritual de trotes preparados para os calouros do curso de Enfermagem, que terminou numa sessão de tortura.

A estudante acusa a aluna Aline Mota Cordeiro, do 3º período de Enfermagem de tê-la agredido fisicamente e a ameaçado. Aline teria atirado ovos na caloura, a empurrado em cima de carteiras e “ainda desferido um murro contra o seu rosto, dizendo ‘Te prepara que tu está marcada’”.

Dayane garantiu ao Ministério Público Federal que não reagiu às agressões, mas que tentou proteger-se da agressora. A estudante Aline, segundo a denunciante, só teria parado com as agressões ao ser dominada por alguns colegas do curso, que a seguraram, mas ainda assim teria se orgulhado das agressões dizendo aos colegas: “Dei na cara dela”.

A caloura contou ainda que o trote preparado pelos estudantes do curso de Enfermagem aos novatos prosseguiu. Os novos universitários teriam sido amarrados pela calça com uma corda e forçados a passearem descalços dentro de um lamaçal.
Esta não seria a primeira vez que os trotes na Universidade Federal do Acre vão parar na polícia.

No ano passado, uma investigação feita pelo inquérito policial nº 079/2000, apurou que alunos veteranos haviam trancado as portas e janelas das salas de aula onde estariam os calouros, impedindo a saída deles para uma sessão de raspagem de cabelos. Muitos rapazes tiveram a cabeça raspada e pintada. Naquela mesma ocasião, segundo o inquérito, estudantes novatos foram amarrados a uma corda e levados para um passeio pelos blocos da instituição.

Todas as vezes que uma aluna passava pelo cordão, os estudantes novatos eram obrigados a correr e os que não o faziam eram empurrados e até espancados com pedaços de madeira.

O inquérito acabou arquivado a pedido do Ministério Público Federal e o procurador da República, Marcos Vinícius Aguiar Macedo lamenta o arquivamento. Para ele, as práticas de trotes relatadas na Ufac são bestiais e ele teme que elas acabem resultando crimes violentos dentro da instituição, como o assassinato ocorrido na USP (São Paulo), onde um calouro do curso de Medicina foi encontrado morto na piscina da universidade.

Para o procurador, a violência dos trotes na Ufac pode acabar na exigência de manter a polícia no Campus a cada início de período letivo, ferindo a autonomia da instituição, mas garantindo a integridade física dos alunos.

O procurador criticou também a postura da direção da Ufac em não identificar e punir, com a exclusão, os alunos que insistem na prática de trotes violentos. Na denúncia feita à Justiça, Marcos Vinícius pede a determinação de investigação policial para saber se houve conivência criminosa da Ufac, do Centro Acadêmico de Enfermagem e do DCE no caso da estudante Dayane Farias.O procurador quer também que o reitor da universidade, Jonas Filho, a direção do curso de Enfermagem esclareçam o que a instituição fez para apurar o fato e evitar que novos episódios de violência ocorram. Foi pedido também à Justiça para que o chefe do Departamento do Curso de Enfermagem forneça a relação com nomes dos alunos do 3º período que participaram do trote contra a aluna Dayane Farias e que os presidentes do CA de Enfermagem e do DCE sejam ouvidos para falarem como são os procedimentos de trotes. Para a aluna acusada da violência, Aline Mota Cordeiro, o MPF pede que seja ouvida, indiciada e qualificada criminalmente.