Você está aqui: Página Inicial > ABI - Teatro > Para além das grades da aparência
conteúdo

Notícias

Para além das grades da aparência

publicado: 10/06/2025 13h11, última modificação: 10/06/2025 13h12

No mês de junho foi feita uma ação artístico-pedagógica planejada na disciplina de Ensino de Teatro, apoiada pela coordenação do curso de Artes Cênicas e mediada pelo GESTO da floresta, em parceria com o projeto Rede Escrevivências da Libertação, que acontece na penitenciária Francisco de Oliveira Conde (FOC), localizado na cidade de Rio Branco, Acre.

Essa estratégia de visitar esse espaço, foi uma iniciativa docente para tentar aprofundar a experiência da disciplina de DPLE, que ocorre durante os recessos letivos, de maneira mais condensada do que nos semestres oficiais, no sentido de trazer uma experiência mais sensível, destacando um universo mais diverso e problematizador para estudantes que, saindo da universidade, darão aulas de teatro em espaços institucionais com diferentes objetivos.

O Teatro do Oprimido, que foi sistematizado por Augusto Boal, traz opções de jogos teatrais muito ricos para diferentes contextos. É também uma das opções de autoria brasileira para o ensino dessa linguagem e dentro da qual a UFAC é visionária. Teatro do oprimido, como disciplina obrigatória não está presente em todas as universidades do Brasil e a temos implantada na grade curricular. É um sistema que trabalha improvisação através de uma estética singular que inclui diferentes técnicas de acesso ao público, que problematiza diferentes conteúdos e temas importantes para uma prática social mais democrática e consciente.

WhatsApp Image 2025-06-10 at 11.36.57.jpegNo GESTO (Grupo de estudos do Teatro do Oprimido) da floresta, que é um projeto de pesquisa, que nasceu na extensão da UFAC, chamamos os multiplicadores dessa linguagem de passarinhos, porque são eles que espalham as sementes de consciência e facilitam que elas floresçam. Nesse dia, os passarinhos eram Valdelei Oliveira, discente recém formado pelo programa de Teatro da UFAC e Tânia Villarroel Andrade, professora substituta e doutoranda da USP, em Pedagogia do Teatro; apoiados por outros membros do projeto Rede Escrevivências da Libertação, Erick Ámon e Claudia Marques. Projeto este, que se inspira em Conceição Evaristo, para estimular uma escrita profundamente autoral dentro desse contexto, de forma comprometida na escuta sensível desse segmento social. Em caráter extraordinario, também estiveram presentes as discentes Ellen Cristina Santana de Souza, Erika da Silva, Maysa da Costa Delmiro e Julia Aimee Oliveira dos Santos.

É a primeira vez que a parceria se concretiza dessa maneira e foi fundamental a parceria tanto do coordenador do departamento de teatro, prof. Humberto Issao, como tambem o coordenador do GESTO da floresta, prof. Flavio da Conceição, para destacar a importância de projetos de cunho social para reforçar o papel da universidade pública.

Entre as apreciações, as alunas comentaram que teve um momento que elas esqueceram onde estavam, porque a roda de conversa estava tão aconchegante, que não tinha nada de diferente das aulas que faziam na universidade.

Vale ressaltar que como o presídio é um lugar marginalizado, no sentido também de não ser considerado que ele produza arte e cultura, esse tipo de ação é um ato de paz e humanização frente as histórias de vida dessas pessoas, seres humanos em primeiro lugar - e que tem direito a troca de conhecimento para além das desigualdades sociais. E que a permanência dessas experiências é compreender que só a privação de liberdade não é suficiente, pois não considera, por exemplo, a prevenção ao suicídio, que também é cultura de paz. Falar e ser ouvido sobre o como se sente e poder se expressar por práticas artísticas é o mínimo que se espera de uma civilização não-violenta.
Tal como Boal dizia: “Cidadão não é aquele que vive em sociedade, mas que a transforma”.

A liberdade é uma linha tênue, pois todos os seres humanos merecem espaços de reflexão para abrir frestas e fissuras para poderem se comunicar, contarem suas histórias, reverem suas trajetorias e fazerem outras escolhas através da partilha de jogos e voltar a sonhar através do lúdico. O Teatro do Oprimido aliado à Literatura através de alianças acadêmicas para que quem participa se liberte tanto do confinamento físico como mental.

Tânia Villarroel e Valdelei Oliveira, integrantes do GESTO da floresta.