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Os impactos dos movimentos artísticos negros contemporâneos na formação da identidade individual dos jovens brasileiros: O hip Hop

publicado: 28/09/2021 06h44, última modificação: 28/09/2021 06h44

Contexto sócio-histórico

Os problemas de ordem social, como a segregação racial, geraram, dentre várias coisas, a produção de movimentos de contracultura que foram crescendo e se ramificando exponencialmente na sociedade ocidental contemporânea, a partir da segunda metade do séx. XX, os quais vieram como uma força de resistência, a fim de edificar preceitos e quebrar preconceitos, mas, também, atuar como catalisador de mudanças socias e identitárias (CAPELLARI, 2007).
Um dos principais movimentos artísticos negros da contemporaneidade surgido nessa época foi o hip hop que, em meados da década de 60 no Bronx, subúrbio da cidade americana de Nova Iorque, Estados unidos, se configurou devido aos vários problemas sofridos nessas periferias, como violência, pobreza, tráfico de drogas, racismo, educação, inexistência de lazer para os jovens, ou seja, fez-se necessário a organização de um movimento alternativo autossuficiente que fosse capaz de minimizar esses impactos causados na comunidade sem a ajuda do governo, como ressalta ou (SANTOS, 2002, pag. 23,24):
“A cultura hip hop, como uma alternativa para a violência e um sentido para escapar das duras realidades urbanas, alastra-se e polariza-se cultural e comercialmente ao reinvidicar para si o papel de voz marginal(izada) da imensa geração de jovens diante da implacável colonização econômica do mundo globalizado.”

 

O rap nacional e as batalhas de rima


O hip hop desde a década de 1980 foi exportado para todos os lugares do mundo, encontrando e se mesclando com as particularidades do local o qual se estabelecia, mantendo suas características e conceitos mais importantes, os quatro elementos: break, graffite, MC e DJ, mas se ajustando às mazelas sociais e histórico-políticas por onde se alocava, dessa forma se adaptando e evoluindo diferentemente pelo globo, mas com uma base em comum.
No Brasil, Zulu Nation de Afrika Bambaata, Public Enemy e NWA foram alguns dos grupos que inspiraram a chamada “primeira escola” do rap nacional. Historicamente situada em São Paulo, os encontros nos bailes Black, nos centros da cidade e nos discos desses grupos serviram como pilar para geração de sistemas de afeto e resistência que dariam voz, nas décadas seguintes, às periferias de todo o Brasil. É nesse contexto que artistas como Mano Brown, Edi Mota, KL Jay e Ice Blue, os Racionais, se destacam e se desenvolvem, comprometidos a falarem dos problemas sociais mais latentes da sociedade brasileira.
O compromisso desses jovens MC’s, influenciados por essa cultura urbana, era de denunciar a situação de negligência histórica do Estado para com as periferias, se opor às classes dominantes, à discrepância clara entre a distribuição do capital e, principalmente, ao racismo estrutural tipicamente brasileiro, maquiado e negado através da fábula das três raças, tudo isso através da base empírica dos artistas, em seu cotidiano e fatos observáveis que através daquilo que se chama o quinto elemento do hip hop, o conhecimento, puderam ser entendidas e gerarem o sentimento de se expressar revoltas, nas palavras de Loureiro (2016) acerca do grupo Racionais:
“Ao contestar a visão cordial e conciliatória que estrutura o mito da democracia racial brasileira, o grupo teria sido capaz de criar um campo de identificação não mais ancorado na imagem do pobre alegre e festivo, mas do preto, pobre e periférico que não aceita a subjugação e revida. “

 

A “segunda escola”, que surge no final da década de 2000, é gerada pela consolidação da cultura do hip hop como manifestação nacional, com cenários bem estabelecidos de B.Boys, grafiteiros, DJ’s e MC’s brasileiros que através das chamadas “batalhas de rima” promovem pontos de encontro para todas essas modalidades e um lugar seguro para a diversidade e aos oprimidos. O movimento do Rap nesse contexto, que compreende a batida realizada pelo DJ e pela lírica dos MC’s, ganha proporções mercadológicas exponenciais, experenciando o embate entre a cultura e o capital, no entanto ganhando cada vez mais adesão de jovens pretos e favelados que encontram um lugar para se abrigarem.
As chamadas “batalhas de rima” são uma das manifestações do rap e consistem em um embate de palavras improvisadas entre dois MC’s os quais contrapõe ideias rimando sobre uma batida dirigida pelo DJ na frente de uma plateia que irá decidir qual dos dois foi superior com base na identificação que o vencedor foi capaz de gerar. Uma das batalhas mais famosas do Brasil é a feita pela Família de Rua, uma das maiores organizações nacionais de Hip Hop, em Belo Horizonte e junta uma vez por ano MC’s de todo o brasil para se enfrentarem sobre um palco e competirem pelo maior prestígio possível em território nacional e por uma grande quantia em dinheiro.

 

 

REFERÊNCIAS:


SANTOS, Rosana Aparecida Martins. ‘‘O ESTILO QUE NINGUEM SEGURA11 MANO É MANO! BOY É BOY! BOY É MANO? MANO É MANO?‘‘: Reflexão crítica sobre os processos de sociabilidade entre o público juvenil na cidade de São Paulo na identificação com a musicalidade do Rap Nacional. Orientador: Prof. Dr. Waldenyr Caldas. 2002. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27134/tde-10102006-170247/publico/mestrado_dissertacao.pdf. Acesso em: 18 ago. 2021.


CAPELLARI, Marcos Alexandre. Tese: O discurso da contracultura no Brasil: o underground através de Luiz Carlos Maciel (c.1970). São Paulo: 2007. Orientador: Profª. Dra. Raquel Glezer. 2007.Tese (Pós-graduação) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-14052008-132129/publico/TESE_MARCOS_ALEXANDRE_CAPELLARI.pdf. Acesso em: 15 ago. 2021.


LOUREIRO, Bráulio Roberto de Castro. Arte, cultura e política na história do rap nacional. Instituto de estudos brasileiros, São Paulo, ed. 63, p. 235-241, abril 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rieb/a/ZxHFxGCqKX4ZZM9rrBqzGhF/?lang=pt HYPERLINK "https://www.scielo.br/j/rieb/a/ZxHFxGCqKX4ZZM9rrBqzGhF/?lang=pt&format=pdf"& HYPERLINK "https://www.scielo.br/j/rieb/a/ZxHFxGCqKX4ZZM9rrBqzGhF/?lang=pt&format=pdf"format=pdf. Acesso em: 17 ago. 2021.


ALBUQUERQUE, Carolina Abreu. Batalhas de afirmação, batalhas de institucionalidade: uma análise discursiva de performances da resistência no Duelo de MC’s. PORTAL DE REVISTAS DA USP, [s. l.], v. 7, n. 14, p. 371-389, julho-dezembro 2013. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/Rumores/article/download/69448/72028. Acesso em: 17 ago. 2021.