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Transtorno do Espectro Autista, o que é?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), conhecido popularmente como autismo, é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento (American Psychiatric Association, 2014), sendo considerada uma síndrome multicausal por envolver fatores genéticos, neurológicos e sociais da criança, comprometendo “o desenvolvimento motor e psiconeurológico dificultando a cognição, a linguagem e a interação social da criança.” (PINTO et al. 2016, p. 2). A partir do DSM5 o autismo foi englobado no chamado Transtorno do Espectro Autista por incluir outros transtornos do desenvolvimento que envolvem prejuízos sociais (transtorno de Asperger, transtorno global do desenvolvimento). O termo espectro abrange, portanto, uma ampla gama de sintomas e níveis de gravidade que vão de leve a grave, e suas manifestações podem diferenciar-se de sujeito a sujeito, resultando sempre em um caso singular.
Segundo o DSM5 (2014), os primeiros sintomas do transtorno do espectro autista costumam ser reconhecidos entre o primeiro e o segundo ano de vida, frequentemente envolvem:
“A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto):
1. Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais.
2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal.
3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares.
Especificar a gravidade atual:
A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos[...].
B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto):
1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas).
2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente).
3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos).
4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento).
Especificar a gravidade atual:
A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento [...].
C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida).
D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. [...]” (American Psychiatric Association, 2014, p. 50).
O diagnóstico se dá pela presença dessas características desde o início da infância de forma a limitar ou prejudicar o funcionamento diário, tornando-se mais confiável a partir da observação do clínico (neurologista ou psiquiatra) e relato do cuidador (American Psychiatric Association, 2014).
Em virtude da diversidade comportamental seu diagnóstico não é fácil e cada vez mais o psicólogo, através da neuropsicologia, tem contribuído no diagnóstico com a aplicação de testes, utilização de escalas, entrevista clínica, podendo inclusive incluir a observação da criança em seu contexto social, na escola por exemplo. Tem papel relevante na avaliação do nível de gravidade, além de auxiliar na construção de estratégias clínicas e educativas visando o desenvolvimento da autonomia da pessoa portadora do espectro conforme a especificidade de cada caso (NEUMANN et al, 2016). Portanto, caso se verifique alguns dos sintomas especificados, recomenda-se a busca de profissionais que possam auxiliar no reconhecimento do transtorno e direção do tratamento.
Quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo pode-se iniciar a intervenção multidisciplinar de forma a auxiliar a criança em seu desenvolvimento, apoiando a família com orientações relevantes, daí a importância de que a rede de apoio não-médica possa ter condições de reconhecer os sinais. O diagnóstico costuma evocar uma série e de sentimentos e pensamentos, sendo possível que os pais sejam tomados pelo medo e urgência em fazer algo, contudo, é importante manter a calma e obter informações claras e precisas que permitam a família reorganizar-se e agir da melhor forma, sendo possível, inclusive, que a família e a criança desfrutem de uma vida satisfatória e significativa (ROGERS et al, 2015). O psicólogo também pode auxiliar a família no luto pós diagnóstico, bem como ser um suporte com informações relevantes, contribuindo, dessa forma, para a readaptação da família.
Referências
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (5a ed.; M. I. C. Nascimento, Trad.). Porto Alegre, RS: Artmed.
Neumann, D. M. C. et al. Avaliação neuropsicológica do transtorno do espectro autista. Psicologia.pt – O Portal dos Psicólogos [online]. 2016. [Acessado 26 Agosto 2021]. Disponível em: <https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1087.pdf>. ISSN 1646-6977.
Pinto, Rayssa Naftaly Muniz et al. Autismo infantil: impacto do diagnóstico e repercussões nas relações familiares. Revista Gaúcha de Enfermagem [online]. 2016, v. 37, n. 3 [Acessado 11 Agosto 2021] , e61572. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1983-1447.2016.03.61572>. Epub 03 Out 2016. ISSN 1983-1447. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2016.03.61572.
ROGERS, S. J. et al. Autismo: compreender e agir em família. Tradução de Ana Nereu Reis. Lisboa: Lidel, 2015.